Joseph Mallord William Turner (Londres, 23 de Abril de 1775 – Chelsea, 19 de Dezembro de 1851)
Light and Colour (Goethe's Theory) — The Morning after the Deluge — Moses writing the Book of Genesis, 1843
Light and Colour (Goethe’s Theory) — The Morning after the Deluge — Moses writing the Book of Genesis, 1843- Oil on canvas – 78.5 x 78.5 cm.- The Turner Collection, Tate Gallery, London
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Shade and Darkness- the Evening of the Deluge, 1843, Oil on canvas- 78.5 x 78 cm, Tate Gallery, London.

«A pintura que se faz segundo o modelo perspectivo depara com uma dificuldade fundamental ao abordar o tema da paisagem. Mas, no fundo, o que enfrenta é o problema da representação do infinito que é, teoricamente, o ponto onde coincidem todas as linhas e que, em pintura; é algo muito difícil de representar devido à escassez de espaço disponível e à composição em planos do espaço representado. A pintura da paisagem é um desafio à teoria da perspectiva. Houve entre quinhentas a seiscentas soluções diferentes para este problema: a correcção (muros, septos, obstáculos que se põem ao horizonte), as linhas oblíquas que correm para o fundo (Lorrain), a perspectiva aérea ou das cores (Leonardo), que não são mais do que tentativas de correcção do problema da distância usando o carácter vago da representação. Mas a questão continua a ser a mesma: como evitar o problema do infinito, dado que este é um ponto e, portanto, imaterial (invisível)? No espírito da época de Tumer, a questão subverte-se e transforma-se em: como dar dar forma ao infinito, apesar de a pintura ser a representação de corpos finitos (normalmente manifestados através de contornos)?
Pois bem, Turner resolve o problema com uma intuição audaciosa que é justamente a mesma que também aparece noutro campo do saber, o das matemáticas. Até 1800, os matemáticos mantinham uma oposição absoluta entre dias ideias )«infinito» vs «indefenido»), que Descartes já tinha diferenciado radicalmente. Logo se introduziram os chamados «números indefinidos», números que, submetidos a certas operações, fazem que estas se prolonguem até ao infinito. Portanto, o infinito está no indefinido, no «pouco mais ou menos».
É precisamente no plano da expressão que Turner impõe com os seus quadros umas novas categorias relativamente ao passado, mesmo ao passado recente:

«linear» vs «não linear»
«contornado» vs «expandido»
«policrorno» vs «monocromo»
«luminoso» vs «opaco»
«ortogonal» vs «circular»
«fluido» vs «denso»

Hegel, na Estética, diz que «o infinito pertence ao divino e o humano só pode chegar até ele através do «indefinido».
É necessário estabelecer equivalências entre «infinito» e «indefinido», de maneira que a representação do segundo tenha como significado o primeiro. O indefinido ao nível da expressão será portador do infinito ao nível do conteúdo. É isto que Turner pretende fazer em pintura: uma nova «palavra pictórica».
Omar Calabrese, “Breve semiótica do infinito”, in Como se lê uma obra de arte, (1993) Lisboa, edições 70, 1997.

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